domingo, 30 de outubro de 2011

O conceito mixed-use

Francisco Maia Neto


Recentemente, ganhou destaque na mídia um lançamento imobiliário na cidade de São Paulo, em função de ele ter como sócio o rei Roberto Carlos, que participa do empreendimento com uma cota de 50%, por meio do braço imobiliário de seus negócios, que recebeu o sugestivo nome de Emoções Incorporadora.

Situado no coração da região formada pela Avenida Faria Lima e Vila Olímpia, que os paulistas apelidaram de Manhattan brasileira, numa alusão à cidade de Nova York, o empreendimento apresenta um conceito já bem-sucedido naquela metrópole, como em Londres, Tóquio e Dubai. Reúne em um mesmo projeto unidades residenciais, comerciais, serviços, centros de compras e conveniência, o que se denomina como conceito “mixed-use”.

Um contingente de profissionais formado por engenheiros, arquitetos, decoradores e paisagistas é convocado para dar forma a esse tipo de empreendimento, que oferece boa localização e diferenciais de projeto para atrair os futuros compradores. Os preços elevados para os padrões de mercado não são empecilho, especialmente por se tratar de apartamentos com área usualmente entre 60 e 90 metros quadrados (m²), ou ainda lofts e coberturas com áreas maiores.

Esse novo conceito surge na esteira da conclusão de empreendimentos comerciais de grande porte, onde se instalam sedes de grandes corporações nacionais e multinacionais. Essas empresas carreiam para a região um contingente de executivos com elevado padrão salarial, que enxergam nesses edifícios a oportunidade de residir próximo do local de trabalho, muitas vezes podendo se deslocar a pé.

Outro diferencial para alavancar as vendas desses imóveis, que exigem quantias superiores a US$ 1 milhão para adquirir uma unidade de 100m², é a proximidade com endereços nobres que abrigam shopping centers, ou espaços que oferecem opções de lazer, como clubes, parques ou praças.

Embora estejamos nos referindo a exemplos recentes, o que faz parecer que esse tipo de produto é uma novidade, não podemos esquecer que, nos idos dos anos 1960, esse conceito foi aplicado na construção do famoso Conjunto Nacional, situado na Avenida Paulista.

Os notórios problemas de mobilidade urbana que afligem nossas metrópoles fazem aumentar a demanda por esse tipo de empreendimento, que alia a questão estrutural à praticidade de serviços como lavanderia, conciérge, academia de ginástica e refeições rápidas, entre outros. Isso atrai um público formado por solteiros ou jovens casais sem filhos, das classes A e B, na faixa etária de 25 a 40 anos, ou pessoas acima de 60 anos, com filhos já casados.

Outro dado interessante sobre esse produto imobiliário refere-se ao perfil dos adquirentes quanto ao seu posicionamento no mercado, pois, cerca de 70% dos compradores de unidades nos condomínios mistos são investidores, enquanto os outros 30% são futuros usuários, o que demonstra uma crença na boa rentabilidade que o produto vai oferecer.

Mas nem tudo são flores quando o assunto são os edifícios “mixed-use”, uma vez que existem críticos a esse tipo de edificação, que veem nessa autossuficiência um risco de aprofundar o isolamento dos moradores. Entretanto, os argumentos favoráveis são muito superiores e essa crítica não se fundamenta, pois até mesmo moradores de casas podem se mostrar refratários a conviver com vizinhos.


Fonte: http://impresso.em.com.br/app/noticia/toda-semana/lugar-certo/2011/10/30/interna_lugarcerto,12283/o-conceito-mixed-use.shtml